Impulsionada por programas como o “Minha Casa, Minha Vida”, do governo federal, e o “Morar Bem”, do governo estadual, que juntos movimentaram cerca de R$ 8 bilhões em cartas de crédito para habitações populares com aplicações do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a construção civil em Pernambuco projeta 2025 com os mesmos números sólidos que obteve neste ano, apesar dos juros altos. Somente em empregos criados com carteira assinada, o setor já havia registrado, até outubro, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), um saldo de 7.693 novas contratações, quase quatro vezes mais do que todo 2023.
“O mercado imobiliário realmente deu um pulo”, comemora o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Pernambuco (Sinduscon-PE), Antônio Cláudio Sá Barreto Couto. A entidade tem 107 empresas associadas e espera que os investimentos se reflitam também em obras de infraestrutura.
Mesmo sem um índice consolidado, a construção civil em Pernambuco encerra 2024 acompanhando o crescimento nacional do setor, que registrou alta de 4,1% em relação ao ano anterior, segundo o relatório Desempenho da Construção Civil em 2024 e Perspectivas para 2025, divulgado na segunda-feira (16).
O presidente do Sinduscon-PE afirma que, embora o mercado imobiliário tenha demonstrado solidez, o setor de infraestrutura ainda apresentou um déficit em relação às expectativas nacionais e estaduais. Segundo ele, a construção civil demanda maior atenção em projetos estratégicos, como o Arco Metropolitano de Pernambuco, via expressa que ligará a BR-408, em Paudalho, à BR-101, no Cabo de Santo Agostinho, considerado uma obra que demorou a sair do papel.
“É fundamental que haja um aquecimento nesse segmento em 2025, especialmente em infraestrutura de transporte, para que o setor atinja um patamar mais pujante e amplie sua contribuição econômica”, apontou Antônio Cláudio Couto. Ele ainda comenta que a perspectiva para o próximo ano inclui mais investimentos em infraestrutura, com destaque para rodovias e obras públicas. Para ele, o setor precisará de ainda mais investimentos e esforços para ter uma alta notável em 2025.
Empreendimento de R$ 1,3 bilhão incluído na versão mais recente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3) do governo Lula, o Arco Metropolitano terá metade desse orçamento bancado pela União e os 50% restantes pela gestão estadual. O eixo sul, com 45,3 km de extensão, vai da BR-408, em Paudalho, até a BR-101, no Cabo de Santo Agostinho. Já o eixo norte, com 50 km, interligará as BRs 408 e a 101, na altura de Goiana.
Somente em rodovias, adutoras e barragens, o governo estadual anunciou previsão de mais de R$ 11 bilhões em recursos, sendo R$ 5,1 bilhões no programa PE nas Estradas e R$ 6,1 bilhões no Águas de Pernambuco. E o leilão dos serviços da Compesa, previsto para o primeiro semestre de 2025, deve mais atrair R$ 18 bilhões de operadores privados na expansão da rede de saneamento.
Setor habitacional em alta
No setor habitacional, a indústria da construção civil em Pernambuco cresceu em função dos programas sociais governamentais. Para ele, ações dos governos federal, estadual e municipal, com recursos do FGTS, desempenharam papel crucial no aquecimento do setor em 2024. Segundo Couto, 2024 é um dos primeiros anos em que a meta estipulada pelo setor foi atingida.
“Esperamos que o governo do estado mantenha o ‘Morar Bem’ com condições especiais de financiamento pelo FGTS em 2025, garantindo a continuidade dos investimentos no setor. Esse programa realmente criou uma condição muito especial do investimento do FGTS”, afirmou o presidente do Sinduscon-PE.
Antônio Cláudio Couto destaca ainda que a Prefeitura do Recife, em parceria com o governo federal, entregou projetos habitacionais no centro da cidade, que também contribuíram para o desempenho do setor, trazendo benefícios tanto econômicos quanto sociais, dentro de um cenário de urbanização planejada.
Uma prova que o FGTS pode ser um grande aliado do setor habitacional em Pernambuco é a aprovação do seu novo orçamento para 2025, aprovado pelo Conselho Curador. No fim de outubro, foi confirmado que o fundo terá R$ 142,3 bilhões disponíveis para todo o Brasil no próximo ano, com recursos destinados à habitação, incluindo R$ 123,5 bilhões específicos para o Minha Casa, Minha Vida, um aumento em relação aos R$ 121,1 bilhões de 2024. Além disso, o programa contará com R$ 12 bilhões em subsídios, contribuindo para facilitar o acesso à casa própria.
Impacto da construção civil no PIB pernambucano
O setor da construção civil continua a ser um motor importante na geração de empregos no estado, especialmente após um período de desafios em anos anteriores. Esses resultados também são refletidos no Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco. No primeiro semestre de 2024, o PIB estadual cresceu 3,4%, enquanto o Valor Adicionado Bruto (VAB) da construção civil teve um aumento de 1,7%, de acordo com dados da Agência Condepe/Fidem.
As atividades que mais contribuíram para esse resultado foram a Construção de Edifícios (55,5%), Obras de Infraestrutura (12,1%) e Serviços Especializados (32,4%), destacando subáreas como instalações elétricas e hidráulicas, que também registraram alta.
Juros altos e impacto no setor produtivo
Outro desafio para 2025 é a manutenção da taxa Selic, uma vez que a taxa básica de juros subiu um ponto percentual na última semana. O panorama prejudica o setor produtivo ao encarecer o crédito e reduzir a capacidade de investimento.
Para representantes da construção civil, é necessário que os juros sejam mais compatíveis com as condições do mercado, garantindo que o setor possa produzir e manter sua contribuição econômica.
“Juros altos são um elemento que é altamente prejudicial ao setor produtivo. Então, precisa ter juros compatíveis de mercado para poder que o setor produtivo produza. Nesse caso, acredito que a taxa Selic precisa ter um equilíbrio. Ela hoje está num patamar muito elevado e esse limite não deveria ser ultrapassado”, destaca Antônio Cláudio Couto.
O presidente do Sinduscon-PE ainda afirma que o Banco Central precisa adotar políticas para assegurar condições mais favoráveis ao setor. “Seria necessário que o Banco Central adotasse uma política para ver como seria o direcionamento futuro nos próximos 60 dias, sem aumentar essa taxa, mas também sem mexer nela para poder ver qual é a acomodação e qual vai ser o direcionamento da inflação”, finaliza.
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