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Infraestrutura digital é segurança nacional, aponta Análise Ceplan 2024

Destacando a importância de investir em data centers, capacitação profissional e energia limpa no Brasil, infraestrutura digital foi tema da Análise Ceplan 2024
Analise ceplan
José Roberto Nogueira, CEO da Brisanet; Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, e Rui Gomes, CEO da Um Telecom, com Jorge Jatobá na discussão sobre infraestrutura digital no Análise Ceplan/Foto: ME

A descentralização da infraestrutura digital é necessária para transformar a região Nordeste do País em um hub global de dados. A mudança só virá com o fomento à instalação dos cabos submarinos noutros estados da região e com a chegada de data centers a mais capitais e municípios do interior. Essa é a conclusão do debate entre Porto Digital, Um Telecom e Brisanet, as protagonistas da discussão sobre os desafios da infraestrutura digital no Nordeste durante o evento Análise Ceplan 2024 ocorrido nesta quarta-feira (27), uma co-realização da Ceplan Consultoria e Movimento Econômico.

A necessidade de descentralização se deve ao crescimento da Inteligência Artificial. O tema abriu e inflamou o debate. “Os governos sabem o quanto de infraestruturas, servidores e consumo de energia precisamos para processar a enorme quantidade de dados atrelada à essa tecnologia”, indagou Rui Gomes, CEO da Um Telecom, no debate mediado por Jorge Jatobá, economista e sócio da Ceplan.

Um mundo fadado a viver de forma digital com telemedicina, educação a distância, home office, veículos autônomos e outras mais facilidades, é um mundo fadado a ser dependente de uma infraestrutura digital robusta. O desafio que os estados do Nodeste têm pela frente diante do avanço da digitalização e da IA foi o tema da abertura da Análise Ceplan, que tem o patrocínio do Complexo Industrial Portuário de Suape, Caixa, Banco do Nordeste, Agemar/Dix Aeroportos, Grupo Moura, Sudene e Sindicato dos Operadores Portuários e o apoio da Folha de Pernambuco.

Panorama da infraestrutura digital

“Precisamos de um verdadeiro ecossistema de transformação digital. Desde rede de fibra óptica de qualidade para o Porto Digital, a rede de backbone que leva internet para o Sertão de Pernambuco e backhaul, que retorna à cidade”, elenca Gomes. Só é infraestrutura, segundo ele, quando rede de acesso para o usuário final tem qualidade.

Apesar de Pernambuco ser atendido com internet de qualidade, como destaca Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, é preciso dar um passo além. A centralização dos cabos submarinos em Fortaleza é, para o especialista, um “problema, inclusive, de segurança nacional — e não só econômico”. “Basta um mergulhador” para causar uma pane na internet brasileira.

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A solução é simples: regularização da alocação dessa infraestrutura. Mas “não vai ser Pernambuco sozinho que vai resolver o problema; é necessária uma mobilização a nível nacional”. O setor revela problemas que só são minimizados, descreve Lucena, com o empenho do setor privado, que leva os cabos do litoral às cidades do interior através das rodovias do País.

Brisanet na Análise Ceplan

A distribuição da internet de forma igual nos centros urbanos e no interior ainda deixa a desejar. Uma torre de transmissão para um município com menos de 60 mil habitantes custa a mesma coisa que uma para uma cidade de 1,5 milhão de pessoas, detalha José Roberto Nogueira, CEO da Brisanet.

O incentivo para essa implementação deve vir do governo. Pois “se (o meio de transmissão) não é ágil, então ele não é competitivo”. Daí vem uma reação em cadeia: sem competitividade não há capacitação da população, nem interesse em levar essa infraestrutura para cidades pequenas.

Data centers e geração de energia limpa: onde investir?

Mas nem só de desafios vive a região. Neste momento, o Nordeste tem grande oportunidade porque tem a capacidade de agregar dois mercados num só lugar: tratamento de dados e geração de energia limpa. A crescente demanda por data centers, essenciais para a infraestrutura de tecnologia da informação, exige alta carga de energia sustentável, o que a região tem de sobra.

José Roberto Nogueira, CEO da Brisanet, demonstrou como a sua companhia vem ajudando o Nordeste a se manter conectado. A empresa, que surgiu em 1998, tem o DNA da interiorização, implantando a tecnologia do interior para capital e tem 93 mil km de cabos urbanos e 43 km mil no interior, o suficiente para dar volta a terra. “A área que a empresa cobre no Nordeste, que em 1998 estava 50 anos atrás dos Estados Unidos, hoje está à frente. Essa região do Nordeste está com capilaridade e capacidade superior aos Estados Unidos”, disse José Roberto em sua apresentação.

Em 2021, após abrir capital e passar a ser listada em bolsa, a Brisanet Serviços de Telecomunicações (BRIT3) arrematou um lote de 80 MHz da faixa de 3GHz para levar o 5G à região Nordeste do país, no leilão do 5G realizado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). A empresa, considerada a maior operadora de internet do Nordeste, fez oferta de R$ 1,2 bilhão. Sua proposta obteve um ágio de 13.741%.

Hoje, a área atendida pela Brisanet equivale a toda população de Portugal. Para garantir que portadores de celulares simples, tenham o mesmo acesso a dados que os donos de smartphones mais modernos, a empresa tem instalado dezenas de mini data centers pelo Nordeste, garantindo latência e acessibilidade.

O presidente do Porto Digital e o CEO da Brisanet convergem para um ponto em comum: formação de pessoal capacitado. Enquanto Pierre chama atenção para que “não se faz inovação sem povo”, José Roberto detalha o porquê: não adianta potencial para inovação se não há pessoal capacitado. Com a popularização da IA, um usuário regular de internet em uma casa deixará de consumir 400 GB/mês para consumir vários terabytes por mês — e a manutenção dessa demanda tem como pré-requisito profissionais com expertises específicas.

Financiamento e políticas públicas

“Questões como essa precisam ser prioridade e tratadas por uma secretaria de Infraestrutura Digital”, sugere Gomes, porque muitas vezes visito secretárias de govenro e parece que o que digo lá ninguém entende”, reclama Rui Gomes. Ele aponta para a urgência de uma maior profundidade nas ações governamentais, sugerindo a criação de um grupo de trabalho dedicado a enfrentar essas questões. Destacando as recentes quedas de energia em São Paulo, que duram dias, e os desafios impostos por eventos climáticos extremos, como as enchentes em Porto Alegre, ele ressalta a importância da descentralização da estrutura crítica de data centers para garantir a resiliência e a eficiência das infraestruturas digitais. 

Gomes enfatiza a necessidade de linhas de crédito mais acessíveis para o desenvolvimento dessas infraestruturas, criticando a ausência de opções competitivas e apontando para o papel que o Banco do Nordeste (BNB) poderia desempenhar na facilitação desse processo.

Pierre Lucena, embora destaque o sucesso do Porto Digital, que se beneficiou do apoio estadual e federal, ressalta a necessidade de uma governança mais eficaz e de condições financeiras mais favoráveis para impulsionar o desenvolvimento tecnológico. A alta taxa de juros, segundo ele, é um obstáculo significativo que impede investimentos mais robustos no setor.

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