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Com cana, milho e sorgo, Pindorama produz álcool o ano inteiro em Alagoas

A Cooperativa Pindorama é um caso de sucesso no Brasil. O modelo de negócio envolve 1.050 cooperados e gera 1500 empregos diretos
Pindorama
Centro administrativo da Cooperativa Pindorama/Foto: divulgação

Perto de completar sete décadas em operação, a Cooperativa Pindorama deve fechar o ano de 2024 faturando R$ 800 milhões. Fundada por Renê Bertholet, um franco-suíço visionário, em 1956, a cooperativa ocupa 30 mil hectares de terras produtivas entre os municípios alagoanos de Coruripe, Penedo e Feliz Deserto e se destaca nacionalmente como exemplo de sucesso nesse modelo de negócio.

Na safra atual, os cooperados devem colher 1,2 milhão de toneladas, que vão se transformar em variedades de açúcar demerara, cristal e mascavo, além de diversos tipos de álcoois, como as versões em gel de lavanda ou de citronela. Da produção de açúcar, 14% serão destinados a produtos de maior valor agregado, como balas, doces, sucos e refresco em pó.

A cana-de-açúcar é o carro chefe do negócio. Embora já tenha respondido por 80% do faturamento da cooperativa, hoje contribuiu com 55% e tende a perder mais espaço diante da decisão dos cooperados de usar milho e sorgo de forma pioneira na região para manter a usina trabalhando na produção de álcool o ano inteiro. “Com essa mudança, a cana deve perder mais 10% de participação no faturamento”, calcula o presidente da cooperativa, Klécio Santos. “A produção de etanol de sorgo e milho é de 30 milhões de litros/ano e supre o Nordeste na entressafra”.

Usina Pindorama
Usina Pindorama: daqui saem etanol de cana, milho e sorgo/Foto ME

Antes de a cana-de-açúcar ser introduzida em Pindorama, nos anos 80, o maracujá foi a cultura que projetou a cooperativa nacionalmente. O cultivo abriu espaço para uma indústria de suco, e o produto passou a ser vendido em vários estados, tornando-se líder de vendas no Rio de Janeiro na década de 70.

Hoje o portfólio da cooperativa é diversificado e conta com mais de 50 produtos vendidos em 14 estados de três regiões. A diversificação está no DNA da Pindorama, uma lição deixada por seu fundador, Renê Bertholet.

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“Todo o complexo cooperativo que envolve Pindorama é fruto de um projeto de mais de cinquenta anos, inserido em uma política nacional de colonização e reforma agrária que foi idealizado por um europeu, até hoje lembrado e celebrado na comunidade”, diz o estudo Cooperativa Pindorama: um histórico de trabalho coletivo e desenvolvimento territorial, de Sandro Pereira Silva e Carolina da Cunha Rocha.

Fundação de Pindorama

Renê Bertholet chegou ao Brasil na década de 50. Após a Segunda Guerra Mundial, ele obteve apoio de entidades da Suíça para instalar colônias de famílias européias no continente americano. O projeto encontrou espaço no Paraná. Em 1952, o Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC) criou a Companhia Progresso Rural (CPR) com objetivo de desenvolver colônias agrícolas em diversas partes do país. Em 1953, a CPR adquiriu uma grande faixa de terra no sul de Alagoas, região privilegiada por cinco rios, dando origem a Pindorama.

Renê Bertholet
Renê Bertholet/Foto: reprodução

Bertholet entendia que o projeto só daria certo se fosse no modelo de agroindústria. “Isso era importante porque as frutas são muito perecíveis e a agroindústria evitaria que os agricultores ficassem dependentes de atravessadores”, recorda Klécio Santos. Anos depois, a Pindorama negociou com a SUMOC e com a SUDENE e comprou o patrimônio da CPR, assumindo controle do assentamento e da comercialização dos produtos agrícolas.

Com o passar dos anos, mais colonos foram chegando e hoje somam 1.050 cooperados. Após a morte de Bertholet, a cooperativa passou por uma crise que quase levou ao seu fechamento.

O salto veio na década de 80, com lavoura de cana-de-açúcar. A destilaria de Pindorama foi inaugurada em 1982 com capacidade para 120 mil litros, dobrando para 240 mil três anos depois. A partir daí a cooperativa se capitalizou e investiu em novas agroindústrias, que deram margem a produtos como doces, sucos e óleo. Em 2000, diversificou a produção da destilaria, dando início à produção do álcool anidro. Em 2003 inaugurou a usina de açúcar.

Pindorama conta atualmente com 14 agroindústrias ativas e a mais recente é a de processamento de arroz – adquirida para consorciar o cultivo de arroz de sequeiro com cana, na rotação da lavoura. “Somos a usina com maior número de usineiros do mundo. Somos 1.050 usineiros”, brinca Klécio Santos.

Edson Limeira é um deles. Embora também seja funcionário da cooperativa, onde trabalha como motorista, arruma tempo para cultivar seu pedaço de terra com cana-de-açúcar. Na safra atual, ele deve faturar R$ 60 mil reais com a colheita. “Não tenho funcionários. Eu e meus irmãos, que também cultivam cana, ajudamos uns aos outros com a terra. Posso lhe dizer que a cana é a melhor lavoura”, ressalta Limeira, que também tem um pequeno rebanho.

Com 32 mil habitantes espalhados em várias colônias e 1500 funcionários – volume que dobra na safra de cana – Pindorama tem a maior densidade demográfica rural do Brasil. “São 30 mil hectares para uma população de 32 mil pessoas, um hectare por pessoa”, ressalta o presidente. Isso, de acordo com ele, garante a maior distribuição de renda do Nordeste. A renda média em Pindorama é de R$ 7 mil reais.

Não é à toa que a Cooperativa Pindorama tenha se tornado um caso digno de estudo. Sua dinâmica socioeconômica é inovadora. Além da busca incessante por novos produtos e novos mercados, Bertholet chegou ao ponto de criar uma moeda, o Gabão. Ela funcionou como um vale-compras e facilitava o comércio entre os cooperados.

Moeda social
Moeda social Bertholet/Foto: ME

Hoje Pindorama tem outra moeda social, o Bertholet, em homenagem ao seu fundador. Cerca de 30% dos salários são pagos com ela, que também garante desconto de 4% nas compras de produtos da cooperativa.  “Nossa moeda é mais forte do que o real”, brada Klécio. A moeda Bertholet contribui para que circulação de riqueza permaneça dentro da cooperativa. Esse sistema de moeda própria, além de ser uma medida de incentivo econômico, também se tornou um símbolo da identidade e da independência da comunidade Pindorama.

Quando morreu, aos 62 anos, em 1969, Bertholet já tinha garantido um legado a Pindorama. Seus ensinamentos ajudaram a transformar o que era um sonho para pequenos agricultores em um empreendimento de sucesso.

Orquestra Pindorama
Orquestra Pindorama regida pelo maestro Jefferson Alexandre /Foto: ME

Hoje, seus sucessores mantêm seus princípios, onde o cuidado com as pessoas é algo muito relevante. Desde cedo as crianças recebem educação e os jovens, formação profissional. Um destaque é a Orquestra Musical da Pindorama, regida pelo maestro Jefferson Alexandre.

O Centro de Treinamento Rural de Pindorama conta com apoio do Sebrae, o Senai e Senar para capacitar pessoas da comunidade, enquanto o Núcleo de Incubadora de Empresas Pindorama, orienta a criação de microempresas.  Há uma escola de 1º grau, cursos profissionalizantes e projetos que beneficiam a juventude rural.

Cursos de culinária, corte e costura, artesanato geram produtos vendidos em feiras. “Antes, todos os produtos usados pelos trabalhadores rurais e funcionários da cooperativa chegavam de fora. Após o curso de corte e costura, a confecção das peças é feita aqui e a renda gerada vai para a própria comunidade”, diz Alda Santos, gerente do centro.

“Empregamos mais de mil pessoas e todos são da comunidade, temos um olhar atento para os jovens, para dentro de casa. A cooperativa foca muito no equilíbrio econômico, social e ambiental. O ESG acontece aqui desde sempre, esse é o nosso dia a dia. E isso é interessante porque o tripé estando equilibrado as pessoas são felizes. É o que vemos aqui”, diz Klécio Santos.

Neste vídeo, Klécio Santos, presidente da cooperativa Pindorama, fala sobre a distribuição de renda e do impacto social que a cooperativa gera sobre sua comunidade.

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