Empresas de geração solar e eólica instaladas no Nordeste já perderam em torno de R$ 1 bilhão de suas receitas por causa dos cortes da geração determinados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), segundo cálculos feitos por empresas que representam o setor como a Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica). Os cortes já chegaram a atingir cerca de 60% a 80% da geração de energia de algumas empresas.
Para o leitor entender, as empresas se planejaram para produzir 100% (da energia), mas os cortes da geração determinam que as mesmas têm que gerar menos energia. Como as geradoras recebem pelo que produzem, passam a contabilizar uma receita menor.
Geralmente, a energia produzida no País é injetada no Sistema Interligado Nacional (SIN) que abastece quase 100% das casas dos brasileiros. O SIN é operado pelo ONS. Os cortes de restrição da geração sempre ocorreram, mas se tornaram um problema sistêmico depois do dia 15 de agosto de 2023, quando aconteceu um apagão que teve origem no Ceará, um grande produtor de energia eólica. Depois disso, o SIN passou a ser operado de forma mais moderada, determinando mais cortes de geração das geradoras eólica e solar que estão no Nordeste.
“Não há uma única solução para este problema. Precisa de um equilíbro de algumas variáveis”, resume a presidente executiva da ABEEólica, Elbia Ganoum. Ela faz um alerta: “as empresas vão quebrar, caso não seja encontrada uma solução”. Tanto a ABEEólica como a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSolar) estão querendo que o governo federal faça um ressarcimento do prejuízo que as empresas tiveram por ter que gerar menos energia.
Segundo a ABSolar já são mais de mil usinas eólicas e solares que foram atingidas pelo problema e estão com uma ação judicial pedindo o ressarcimento. “A queda na receita tem comprometido os empréstimos e o fornecimento da energia que já foi vendida e as empresas não estão conseguindo entregar”, comenta o diretor Técnico e Regulatório da ABSolar, Carlos Dornellas. Geralmente, as empresas do setor vendem a energia por um contrato de longo prazo antes de iniciar a implantação do empreendimento, mas para receberem o pagamento têm que entregar o produto.
Entenda porque os cortes estão ocorrendo
Segundo Elbia Ganoum, pelo menos dois fatores estão contribuindo para estes cortes de geração: não ter demanda (consumo) na hora em que aquele empreendimento está gerando a energia e a geração distribuída – aquela formada por pequenos sistemas de geração solar que são colocados nos telhados das casas -. Este tipo de geração produz mais durante o dia e a energia que não é consumida é injetada no sistema. O horário de maior consumo no Brasil é entre as 17h e 20h.
Os cortes de geração também diminuíriam se existissem mais linhas de transmissão para transportar a energia produzida no Nordeste para o Sudeste, questão que não vai se resolver de imediato, porque parte das linhas que vão fazer este reforço serão implantas, mas só devem entrar em operação a partir de 2028.
No Nordeste, as empresas que estão sendo mais afetadas pelos cortes de geração estão no Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Pernambuco, de acordo com a ABSolar. Um executivo do setor de geração solar fotovoltaica também diz que as lideranças regionais deveriam começar a se preocupar com este problema, porque caso continue pode contribuir para uma parte dos investidores implantarem suas plantas de geração solar no Centro-Oeste, onde não estão ocorrendo cortes de geração.
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