Está ocorrendo uma infestação da mosca do estábulo em nove municípios de Pernambuco, concentrada em Barra de Guabiraba e cidades próximas como Amaraji, Bonito, Sairé, Cortês, Chã Grande, Gravatá, entre outros. O prejuízo dos produtores destes municípios alcança cerca de R$ 200 milhões por ano, de acordo com informações da União Nordestina de Agropecuaristas (UNA).
“Os animais não atingem a produtividade que poderiam alcançar por causa desta mosca”, comenta o pecuarista João Tavares, também diretor da UNA. “Todo ano, o rebanho perde aproximadamente 30% do peso, se for de corte. Se for animal que produz leite, perde mais de 50% da produção. Para o animal recuperar o peso, leva tempo por causa do sofrimento que teve com a mosca”, diz João, que tem uma propriedade em Barra de Guabiraba. Animais, como os bovinos, são vendidos por arroba e, quanto mais pesado, maior o valor a ser pago com a venda do animal.
Além da perda do peso dos animais, todos os anos morrem muitos animais por causa da mosca do estábulo. “Este ano, já perdi três garrotes. Tem gente usando cama de galinha nas proximidades, embora tenha uma lei que diz para não trazer a cama neste período”, conta a pecuarista Guadalupe Cabral, que cria animais também em Barra de Guabiraba. Ela compra bovinos para “recriar” vendendo o animal depois que ele fica adulto.
Ela estava se referindo a lei estadual 17.890, de 13 de julho de 2022, que proíbe a utilização e armazenamento da cama de aviário como adubo orgânico na atividade agrícola nos municípios de Amaraji, Barra de Guabiraba, Bonito, Camocim de São Félix, Chã Grande, Cortês, Gravatá e Sairé durante os meses de julho, agosto, setembro e outubro.
“Com a mosca, o gado fica andando, não come, fica pisoteando o pasto no mesmo lugar. Acaba até com o pasto. Quem tinha que tratar este esterco (a cama de galinha) antes de vir para o campo é o granjeiro que está gerando este problema”, resume Guadalupe. Ela diz que está pensando em deixar de criar animais por causa da mosca do estábulo. O setor granjeiro de Pernambuco é um dos maiores do Nordeste.
Mosca do estábulo não é de hoje…
Os problemas causados pela mosca do estábulo vem ocorrendo há cerca de 15 anos, segundo vários produtores da região. Este ano, a mosca do estábulo começou a ser um problema a partir de agosto em alguns municípios. E este mês, atingiu mais outros municípios. De acordo com os produtores, o que mais contribui para a multiplicação da mosca do estábulo são as camas de galinha, local que recebe os dejetos das aves, e são comercializados para serem usados como adubo em plantações de banana e cará, entre outras.
As moscas se colam na pele do animal, se espalhando por grande parte do corpo dele, pois são hematófagas: se alimentam de sangue. Geralmente, uma mosca coloca cerca de 400 ovos e num ambiente normal somente 2% destes ovos eclodem. Na cama de galinha, metade dos ovos eclodem. E este é mais um dos motivos que explica a infestação. Em alguns locais, o integrador – que cria o pinto até ficar adulto – vende a cama de galinha por um preço maior do que os animais.
Segundo o diretor de Defesa e Inspeção Vegetal da Adagro, Jurandir Barbosa, a Adagro está monitorando o uso da cama de galinha, montando barreiras fixas e móveis e evitando a comercialização da cama de galinha na região. Ele reconhece que está tendo um início de infestação da mosca em alguns municípios.
Leia também
Leilão da concessão de saneamento de PE deve ocorrer no 1º semestre de 2025
Descarbonização vai impulsionar o futuro promissor do etanol