Uma experiência inédita, realizada no semiárido nordestino, vai ajudar cientistas e pesquisadores a compreender as condições de sustentabilidade no espaço. A startup Inovatix Marte fez a primeira simulação lunar do hemisfério sul, com o intuito de estimular o desenvolvimento da pesquisa e exploração espacial. A iniciativa, chamada de Lunar Habitat, aconteceu no Aerospace Complex, um centro de treinamento instalado na zona rural de Caiçara do Rio do Vento, localizada a cerca de 100 km de Natal.
A Inovatix Marte, criada em 2022, é uma das nove startups do Rio Grande do Norte que receberam apoio da Sudene para o desenvolvimento de projetos inovadores que tenham impacto para o desenvolvimento do Nordeste. No total, foram investidos R$ 500 mil, em parceria com o Sebrae (RN). As empresas selecionadas seguem o edital Centelha 2, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), diretrizes e prioridades para apoio a P&D aprovadas pelo Conselho Deliberativo da Autarquia.
O projeto é coordenado pelo professor do Departamento de Engenharia de Produção da UFRN, Júlio Rezende, e foi resultado de uma investigação desenvolvida durante o seu pós-doutorado, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Nesse contexto, ele tomou conhecimento da estação espacial norte-americana Mars Desert Research Station (MDRS) e percebeu que poderia aplicar tais estudos no sertão potiguar. O município foi escolhido por sua boa condição logística de acesso através da BR-304 e proximidade ao Pico do Cabugi, que possui um solo análogo ao lunar.
“As estações de simulação realizam operações pioneiras no hemisfério sul, e estamos abertos a aplicar pesquisas e tecnologias de universidades e empresas que tenham interesse em visualizar essas aplicações na área espacial”, destaca Rezende.
Primeira simulação na estação lunar
A primeira missão de simulação espacial no Lunar Habitat aconteceu no dia 29 de maio e 1° de junho, no complexo aeroespacial da startup, sendo um momento de grande aprendizado aos participantes e colaboradores, além de testar a infraestrutura física construída com apoio dos financiadores.
Segundo o coordenador, foram realizadas operações associadas à gestão da água, uso da energia renovável e produção de alimentos em ambiente controlado. “Este último aspecto tem uma atenção especial na iniciativa apoiada pela Sudene”, comentou. Rezende acrescentou que os principais desafios da empresa estão relacionados à sustentabilidade econômica da iniciativa, por isso, estão em busca de novas parcerias estratégicas para sua manutenção.
As missões estão programadas para este ano todo, com expectativa de que continuem também em 2025. Pesquisadores, profissionais e estudantes são convidados a aprofundar seus conhecimentos sobre exploração espacial. O centro de treinamento também recebe grupos de escolas e universidades para visitas técnicas.
“Esperamos a sustentabilidade econômica, já que já atendemos a todos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Hoje, temos participantes de mais de 40 países em nossas missões virtuais e de mais de 10 países em missões presenciais no sertão do Rio Grande do Norte”, diz.
Apoio à inovação
Em busca de fortalecer seu papel no ecossistema de ciência, tecnologia e inovação, a Sudene lançou o Programa de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento. No total, a autarquia apoiou 73 projetos inovadores em sete estados da sua área de atuação, investindo R$ 5,6 milhões em 2023. Os recursos são oriundos do valor correspondente a 1,5% das operações do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE). Outras 27 empresas devem ser contempladas na Bahia, Ceará e Minas Gerais em 2024. Em média, a Sudene investiu cerca de R$ 560 mil em cada estado participante.
“Esta é uma iniciativa inédita para estimular o empreendedorismo associado à inovação no Nordeste. Apoiar o desenvolvimento tecnológico de soluções que conversem com as necessidades sociais da região é uma das estratégias da Sudene para dinamizar o mercado de ciência e tecnologia, direcionando-o à redução das desigualdades regionais”, comentou o superintendente da Sudene, Danilo Cabral.
Os projetos apoiados precisam estar em sintonia com o Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE), que dedica um eixo específico de ações para a área de inovação. Entre as diretrizes previstas estão a difusão de pesquisas e tecnologias para arranjos produtivos locais, a formação de recursos humanos e a implementação de polos de produção científica.
Para selecionar os projetos, a Sudene atuou em conjunto com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), analisando soluções participantes do Programa Centelha 2. Para atuar de forma descentralizada, a autarquia celebrou acordos de cooperação técnica com as fundações estaduais de amparo à pesquisa, além do Sebrae no estado do Rio Grande do Norte.
* Com informações da Sudene
Leia mais: Ciência dá lucro: Finep tem maior resultado da história