As empresas do setor têxtil e de confecção do Nordeste precisam fazer a transformação digital e se integrar mais a produção de vestuário globalizada. Estas são algumas conclusões do estudo Elaboração de Estudos, Pesquisas, Diagnósticos e Plano de Ação para os Principais Polos Têxtil e de Confecções da Área de Atuação da Sudene.
“Para o setor se manter e conseguir crescer tem que se integrar mais a produção de vestuário de forma globalizada. E a primeira questão que aparece aí é se qualificar para concorrer com os importados”, comenta o representante do Consórcio América Fato que realizou o estudo, Eduardo Antonio Audibert.
Nos polos têxteis e de confecções do Nordeste o maior destino da produção é a própria região, que chega a representar cerca de 80% (do destino), de acordo com o levantamento. “Com a concorrência externa via plataforma de e-commerce, a produção local tem que ter acesso a novos mercados. Por exemplo, eu posso estar vendendo para o município vizinho e o município do lado estar recebendo produtos da Shein”, comenta Eduardo.
Os outros grandes destinos desta produção são a Bahia com 22%, o Ceará com 20%, 30% fica nos municípios onde ocorre a produção ou no seu entorno e 25% vai parar em São Paulo. “São Paulo é uma espécie de local que redistribui esses produtos para outros lugares”, explica Eduardo. São vários fatores que contribuem para essa distribuição dos destinos, como as empresas serem pequenas, o custo da logística é alto e também há um problema burocrático na compensação do ICMS. “Alguns entrevistados disseram que é mais fácil vender a partir de São Paulo para outros Estados por causa da burocracia fiscal”, conta.
No Brasil, os grandes produtores de têxteis e confecções são Santa Catarina e São Paulo, que possuem o custo maior porque a força de trabalho lá é melhor remunerada. “A mão de obra mais barata do Nordeste deixaria o produto final mais barato, mas os produtos fabricados aqui não vão para os outros mercados por causa da burocracia fiscal e o alto custo da logística”, explica Eduardo.
Com as dificuldades de escoar a produção, as feiras se tornaram referência no escoamento destes produtos, segundo o estudo, como ocorre em cidades como Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama. “As feiras do Agreste pernambucano são as únicas que não estão vinculadas a uma capital. Os principais clientes do setor que vão as feiras são o pequeno varejo, as sacoleiras e as lojas pequenas. Isso está mudando por causa da internet. As feiras não vão acabar, mas as empresas precisam se organizar e vender no ambiente digital”, argumenta Eduardo. Ele conta também que alguns entrevistados disseram que alguns clientes estão vindo menos vezes, de forma presencial, às feiras e fechando alguns pedidos de compra, de forma remota, pelo Whats App já indicando uma mudança no comportamento dos compradores.
O estudo foi feito incluindo toda a área de atuação do Nordeste. Os polos de empresas têxteis e de confecções são 42 no Nordeste e se concentram nos Estados do Ceará, Pernambuco e Bahia, que têm maior número de empresas. Também foram mapeados três polos no norte de Minas Gerais e um no norte do Espírito Santo , que também pertencem à área de abrangência da Sudene.
Para fazer o levantamento, foram entrevistados empresários e executivos de 397 empresas têxteis e de confecções, incluindo desde microempreendedores individuais até grandes empresas. “De uma maneira geral, estas empresas vão precisar de apoio pra fazer a transformação digital”, conclui Eduardo.
O estudo e o Rotas da Moda
A Sudene encomendou o estudo que foi apresentado aos empresários do setor no 1º Encontro Regional dos Setores Têxtil e de Confecção, realizado na terça-feira (28), no Agreste de Pernambuco. O Estado foi incluído no Programa Rotas da Moda, a pedido da própria Sudene, que se baseou no estudo citado acima. “A cadeia produtiva têxtil e de confecção são um importante segmento da nossa economia e nós estamos aqui juntando esforços apontar caminhos para os desafios postos para esses setores”, afirma Danilo Cabral.
O Rotas da Integração são compostas por redes de arranjos produtivos locais associadas às cadeias produtivas estratégicas com o objetivo de promover a inclusão produtiva e o desenvolvimento sustentável. Na prática, significa a constituição de um comitê gestor do Polo, carteira de projetos, e busca de recursos para implementar estes projetos.
Ainda durante o encontro, a Sudene lançou o programa Linhas do Desenvolvimento, com quatro eixos de atuação, que dialogam com os desafios da cadeia produtiva da moda apontados pela pesquisa: ajudar no acesso a mercados, a crédito, à inovação e melhoria na governança. “São ações que serão desenvolvidas para fortalecer os setores, gerar renda, emprego e oportunidades”, revelou o superintendente da Sudene.
Segundo informações do DataSebrae de 2022, a área abrangida pela Sudene contava com cerca de 11 mil empreendimentos têxteis em 1.210 municípios e 41.792 empreendimentos na área de confecções, em 1.599 municípios. O estudo encomendado pela Sudene constatou que os setores têxtil e de confecções concentram 13% do total de empregos da indústria e 8,2% da remuneração média mensal. A força de trabalho é predominantemente feminina (52,7%), cuja variação média da remuneração é inferior à dos homens (-17,9%).
O estudo resultou de uma parceria da Autarquia com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o Consórcio América de Fato. Confira a pesquisa em detalhes no link https://www.gov.br/sudene/pt-br/assuntos/projetos-e-iniciativas/odne/estudos-e-avaliacoes/textil-confeccoes
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