Por Kleber Nunes
A totalização dos votos do primeiro turno levou economistas e agentes do mercado a colocar as projeções para o próximo ano na ponta do lápis. Não exatamente pela disputa presidencial, que confirmou a polarização captada, embora com índices diferentes, pelas pesquisas eleitorais, mas pela configuração do Congresso Nacional. Some-se a isso, um cenário internacional turbulento e uma realidade doméstica de juros altos, crédito apertado e inflação que corrói o poder de compra, sobretudo, da classe média.
Economistas ouvidos pelo Movimento Econômico vislumbram políticas econômicas distintas em uma eventual reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e em um novo governo Lula (PT). Contudo, também ponderam que a realidade pode se impor e ambos tomarem caminhos mais ao centro diante de um déficit nas contas públicas previsto em R$ 60 bilhões para o próximo ano.
Independente de quem vença o segundo turno das eleições, Lula ou Bolsonaro, terá que enfrentar as instabilidades no mercado provocadas pela invasão da Rússia à Ucrânia que, não só tem se estendido, mas se agravado com as ameaças do Kremlin de avançar para uma guerra nuclear. Além disso, os especialistas destacam que a Europa vive uma das mais graves crises energéticas das últimas décadas, o que tem provocado um efeito em cascata em diversas cadeias produtivas.
“A gente está diante de um cenário de incertezas. Bolsonaro tem uma resistência maior no cenário internacional enquanto liderança. Lula lá atrás já teve mais abrangência e já foi mais bem visto, mas já se vão aí 12 anos desde o último governo do petista, então é difícil dizer como vai ser. Mas é um cenário desafiador por conta fundamentalmente das questões de guerra tornarem as coisas mais complexas”, explicou a professora de economia do Centro universitário UniFBV Wyden, Amanda Aires.
“A perspectiva é de contração em 2023 com alguns países em recessão e outros crescendo menos, o que pode impactar o Brasil na exportação de commodities agrícolas e minerais. Agora a gente está com a taxa de juros muito elevada que freia a nossa economia para o ano que vem. Será que o governo que vai entrar vai fazer uma política fiscal expansionista? Se isso acontecer pode ser que ajude um pouco porque na parte monetária a gente só deve começar a ter uma redução da taxa de juros no início do segundo trimestre”, afirmou o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e economista-chefe do LIDE Pernambuco, Écio Costa.
Tanto Lula quanto Bolsonaro apresentaram pouco do que pretendem fazer na economia. Olhando para o retrospecto de ambos, o economista Paulo Guimarães, sócio da Ceplan Consultoria, aposta que em um novo governo petista estabeleça um modelo mais desenvolvimentista, que aposte nos bancos públicos como instituições de fomento e no estímulo do crédito para estados e setor produtivo. Já o atual presidente, deve manter um plano alicerçado na atração de capital privado, principalmente por meio de concessões e parcerias público-privadas (PPP).
“Mas eu diria que esses modelos não estão tão distantes. Por que há uma tendência no processo eleitoral de que, tanto a candidatura Lula quanto a candidatura de Bolsonaro, terem que fazer alianças mais ao centro. Eu diria que ainda é cedo para avaliar porque haverá negociações para eleições dos presidentes da Câmara e do Senado, dependendo, os arranjos vão levar um tempo para maturar”, avaliou Guimarães.
Costa, por outro lado, acredita que a atual configuração das casas indicam que, se reeleito, Bolsonaro terá mais facilidade para implantar medidas econômicas capitaneadas pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, que ao que tudo indica permanecerá no cargo em uma eventual reeleição do atual presidente. “No caso de Lula, a situação é um pouco mais complexa porque as duas casas vão ter um perfil mais de centro-direita, então as mudanças que ele vem falando de contrarreformas ele não vai conseguir”, analisou.
Amanda destaca que um possível novo governo Lula será diferente dos outros dois anteriores e, também, com mais dificuldades com o Congresso. “O primeiro foi um mandato focado em manter a herança de Fernando Henrique Cardoso, o segundo teve mais intervenção do governo como resposta à crise de 2008. O que se deve esperar agora é uma economia que vai tender a uma meta de inflação mais severa, ele deve fazer um aceno a Henrique Meirelles, aí deverá ter no Brasil um governo liberal, menos do que de Bolsonaro e mais uma agenda de centro”, concluiu.
Nordeste
Ao voltar o olhar para o Nordeste, os economistas salientam a estratégia de política econômica de desenvolvimento regional como sendo mais do perfil de um novo governo petista, enquanto que na gestão bolsonarista prevaleça o investimento no Auxílio Brasil que, embora prometido para ser mantido em R$ 600,00, ficou de fora da previsão orçamentária de 2023.
Guimarães aponta que o governo Lula tem uma visão de país com diferenças regionais maiores e, portanto, necessitado de tratamento diferente. Aí valendo não apenas para o Nordeste, mas também para o Norte e Centro-Oeste. “O governo Bolsonaro aparentemente não trabalhou a questão regional nesses quatro anos, sua visão econômica não observa muito as características do país e suas diferenças. No caso do modelo econômico de um novo governo Lula é bem possível um reforço na assistência social”, argumentou.
Costa lembra que ambos, de olho no Nordeste, defendem a manutenção do Auxílio Brasil pagando R$ 600,00 no próximo ano. “Mas aí cai novamente na preocupação do orçamento para isso. Uma reforma administrativa que diminua o tamanho do estado talvez ajude, mas vai depender de ela ser aprovada. A probabilidade é maior com Bolsonaro do que com Lula”, pontuou o docente.
