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Haroldo Silva: O que esperar para a próxima safra do setor sucroenergético?

A recuperação da produção agrícola no setor é parcial, com expectativa de que sejam colhidas 550 milhões de toneladas
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista

Tendo sofrido fortes impactos das condições climáticas durante a safra 2021/2022, espera-se que o próximo ciclo do setor sucroenergético brasileiro seja de normalização quanto à disponibilidade de matéria-prima, em função da melhora do clima a partir de outubro/2021; porém limitada, pois o canavial encontra-se com desenvolvimento atrasado, com falhas decorrentes da seca e incêndios, bem como suportando os impactos negativos da interação de pragas, doenças e plantas daninhas.

Haroldo José Torres Silva
Haroldo José Torres da Silva é Doutor em Economia Aplicada – Foto: Divulgação

A recuperação da produção agrícola no setor, portanto, é parcial, com uma expectativa de que sejam colhidas 550 milhões de toneladas, o que representaria uma alta de 4,8% na oferta de matéria-prima na região Centro-Sul brasileira. Tal produção, porém, mostrar-se-ia distante dos 605 milhões observados no ciclo 2020/2021.

Apesar deste cenário, percebem-se os esforços em investimentos para a recuperação dos canaviais num mercado com bons preços setoriais. As melhores remunerações dos produtos (açúcar e etanol) induzem maiores níveis de investimento, em especial em novas tecnologias, em que pese a expansão do plantio de variedades modernas e emprego de produtos biológicos, micronutrientes e adubos foliares.

Quanto aos custos, após um impacto muito negativo oriundo da redução da produtividade agrícola – limitando a diluição de custos fixos – espera-se relativa melhora nesse aspecto, em linha com os prognósticos agrícolas. Porém, as fortes elevações dos preços dos insumos agrícolas e industriais devem facilmente suplantar tais ganhos de escala e resultar em novos aumentos de custos.

Na área agrícola, os fertilizantes a serem usados durante o ciclo 2022/2023 serão adquiridos ainda num momento de alta. O encarecimento causado pelos movimentos no mercado de energia, tensões geopolíticas e eventos climáticos extremos, devem demorar a se dissipar. Portanto, embora exista expectativa de desaceleração, o custo com tais insumos deve sofrer nova elevação.

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A iniciar pelo diesel, o mesmo foi diretamente impactado pela recuperação do preço do petróleo, e seu preço deve permanecer elevado durante a safra 2022/2023; além disso observam-se riscos adicionais associados, por exemplo, ao aumento de tensões geopolíticas que possam restringir ainda mais a oferta global.

No caso dos defensivos agrícolas, com o governo chinês implementando controles ambientais mais rígidos à sua indústria química, não deve haver aumento relevante de capacidade produtiva. Além disso, a manutenção de elevados preços no mercado de energia tende manter os custos altos em toda a cadeia de defensivos, bem como a recuperação das cadeias logísticas tende a ser lenta, não favorecendo a redução dos custos de transporte.

De maneira semelhante aos defensivos, insumos químicos utilizados na área industrial serão adquiridos em patamares elevados de preços, contribuindo para um cenário geral de aumento dos custos de produção. Uma vez que estes itens também dependem, em grande medida, do setor químico chinês, acabando por compartilhar fundamentos de mercado semelhantes.

Controle de custos será foco do setor sucroenergético

Excetuando a ocorrência de uma grande valorização do petróleo no mercado global ou nova desvalorização da moeda brasileira, tem-se um cenário em que os preços do setor sucroenergético podem estar se aproximando de um limite, enquanto os custos enfrentados pelas usinas e produtores independentes de cana-de-açúcar ainda se elevam.

Como consequência, ainda que as margens econômicas na safra 2022/2023 tendam a se manter em bons patamares, as mesmas devem ser reduzidas em função do encarecimento da produção. Neste contexto, o foco do setor, por um tempo, continuará sendo o controle de custos, atrelado à busca por melhoria na eficiência operacional e aumento da produtividade agrícola.

O aumento contínuo dos custos no setor sucroenergético, ao iniciarem um processo de redução das margens do setor, deve incentivar estratégias que já vinham sendo adotadas especialmente após a pandemia de COVID-19. Investimentos em diversificação devem continuar a ser realizados pelas usinas sucroenergéticas, aproveitando-se do caixa gerado em função dos preços, buscando garantir melhor rentabilidade da atividade no futuro. Por outro lado, deve ser notado que a capacidade de financiamento do setor deve se reduzir em meio a alta das taxas de juros no Brasil.

Em suma, a combinação dos elevados preços do petróleo com a desvalorizada moeda local, num mercado competitivo, deve manter os preços do etanol elevados. Porém, do ponto de vista setorial, o maior risco para a safra 2022/2023 consistirá em eventuais medidas que possam vir a ser adotadas, para conter os preços da gasolina no mercado doméstico, impactando negativamente os preços do etanol.

Desta forma, a safra 2022/2023 da região Centro-Sul no Brasil será de parcial recuperação da produtividade, com foco no controle de custos, e um olhar atento para as medidas macroeconômicas, num ano eleitoral.

Haroldo José Torres da Silva Doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP e Gestor de Projetos do PECEGE


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