Por Célio Muniz*
O quão difícil é ser um cidadão brasileiro. As vezes são tantos os problemas, desafios, desrespeitos e frustações impostas ao cidadão comum, que fica difícil entender como estas agressões cotidianas impactam na vida do homem comum. Neste texto pretendo dar um nome, CPF, endereço e o que mais for possível para um destes descasos absurdos, que se perdem em meio ao anonimato das milhões de vítimas deste país onde tudo conspira contra o CIDADÃO.
Sou um trabalhador que desde o ano de 1975, quando ainda tinha 15 anos incompletos, iniciei minha vida como Menor Aprendiz na Agência Centro do Banco do Brasil em Recife, minha cidade Natal e onde até hoje resido. Trabalhei durante estes 46 anos em diversas outras empresas, algumas grandes outras médias e pequenas.
Hoje tenho 61 anos e fiquei entusiasmado com a notícia de que o Governo havia liberado o resgate dos recursos do PIS/Pasep para quem tinha mais de 60 anos. Me dirigi primeiro ao Banco do Brasil, onde não havia nenhum saldo que pudesse sacar. Me dirigi depois a Caixa Econômica Federal pois uma conta tão antiga poderia haver migrado para o sistema PIS, outra decepcionante constatação de que nada havia em valores em meu nome.
Voltei ao BB e ouvi de um gerente uma história que mais parecia algo surreal: “Houve alguns desvios e saques ilegais há alguns anos”. Diante desta tão vexatória notícia perguntei como poderia saber se este era o meu caso. “O senhor terá que solicitar uma microfilmagem dos antigos extratos da sua conta”. De posse do meu número do PASEP fiz isto e aguardei por três longos meses até obter a pior notícia: até o ano de 1999 havia saldo em minha conta, porém, este valor foi sacado totalmente.
Sai do BB meio atordoado com aquele pedaço de papel na mão. Lá estava a prova de um crime. Uma empresa de Economia Mista (50% Estatal, e 50% Privada) que está entre os 5 maiores Bancos do Brasil, que possui uma reputação que jugamos ilibada, e por isso mesmo deveria cuidar e resguardar o sigilo de dados de seus correntistas, havia deixado uma porta aberta para criminosos, que estão por aí sabe-se onde, amealhando fortunas com o dinheiro dos trabalhadores brasileiros, impunemente.
Depois de me recompor psicologicamente, e em meio a pior Pandemia Global em um século, eu consegui reunir forças para buscar um Escritório de Advocacia onde fui orientado a ajuizar uma ação contra o Banco do Brasil e o Governo Federal para ressarcir meus danos financeiros. Fiz isso através do Proc. 0010631-34 2021.8.17.2001 que tramita na 15ª [CM1] Vara Civil. Saí de lá com esperança de que seria algo rápido afinal se tratava de um “Roubo Fenomenal” que pelo que me foi dito botaria qualquer Assalto do Trem Pagador como se fosse uma história da carochinha. E como se tratava de uma instituição séria como o Banco do Brasil, assim eu supunha, seria logo chamado para receber o que me era devido.
Ocorre que meses depois tive mais uma frustração ao me deparar com a morosidade e descaminhos do nosso Poder Judiciário, que decidiu através do Superior Tribunal de Justiça, através de um dos ministros, “interromper” todos os processos que se referiam ao PIS/PASEP, alguns que pediam apenas correção de perdas de Planos Econômicos Anteriores, e jogaram dentro do mesmo “balaio” casos como o meu que fui “simplesmente roubado”.
Fico aqui em minha casa imaginando que este Juiz/Desembargador/Ministro, que tem seus vencimentos pagos com os inúmeros impostos que eu e toda a população brasileira contribuiu, deve estar muito tranquilo em sua casa, utilizando estes “Processos” como um PUF para apoiar melhor seus pés enquanto assiste televisão.
Enquanto isto, eu o cidadão roubado, vilipendiado, enganado, estou tentando sobreviver sem emprego (tenho mais de 60 anos), sem saúde pois fui acometido pela Covid-19, sem perspectiva nenhuma de sustentar minha família aguardo que “em alguma data” venha eu ou meus descendentes receber as verbas as quais tanto trabalhei para fazer jus.
*Célio Muniz é cidadão brasileiro.
**Os artigos publicados aqui não se refletem, necessariamente, a opinião do Movimento Econômico.