Experimentando seu auge até meados dos anos 1980, o cultivo de fumo enfrentou diversos problemas e se tornou uma atividade que hoje sobrevive em poucas propriedades, como ocorre em Craíbas, município que detém atualmente a maior produção no estado. O fumo é vendido em feiras e abastece indústrias beneficiadoras.
Damião Marcelino é um dos produtores que resiste na cultura fumageira. Sua plantação fica no povoado Bananeiras, zona rural de Arapiraca, a cerca de 10 quilômetros do centro da cidade.
Mesmo com a migração de muitos produtores do entorno para outras culturas, ele ainda segue cultivando fumo, mas relata que o cenário apresenta cada vez mais dificuldades. Sua propriedade tem cerca de seis tarefas de terra, o que equivale a aproximadamente 1,8 hectare.
“Planto fumo há muito tempo, mas, com o passar dos anos, a cultura vem diminuindo e a situação ficando mais difícil. Hoje o preço não está bom e é difícil encontrar mão de obra para poder quebrar o fumo. Muita gente opta em trabalhar com outra coisa ou nem trabalhar, mas não quer lidar com fumo”, relatou.
Segundo Damião, a falta de mão de obra tem sido um dos fatores que mais comprometem a cultura. Ele disse que precisa contratar entre quatro ou cinco pessoas para atuar na fase de quebra do fumo depois de colhido. O processo se torna pouco lucrativo, no fim das contas, pois as folhas ainda precisam passar meses secando, tarefa à qual Damião se dedica todos os dias a partir das 2h da manhã. Só após ficar seco o fumo é enrolado e vendido.
“Eu tenho que pagar a diária da pessoa que vai quebrar o fumo e ainda deixar um valor acordado ao fim da quebra. Depois preciso virar as folhas diariamente. Então, se eu plantar agora, colho daqui a três meses e só no final de dezembro ele estará pronto para vender. É muito tempo. E, se chover no período de secagem, posso perder toda a produção, como já aconteceu”, explicou.
Hoje, Damião consegue produzir em cada tarefa cerca de 500 quilos de fumo, que são vendidos para uma empresa em Jaú, no interior de São Paulo. Ele também se queixa de que as poucas empresas que ainda atuam no estado praticam preços abusivos ou trabalham com atravessadores, comprando fumo de outras regiões do país e deixando de adquirir a planta dos produtores locais.
“A sorte é essa empresa paulista e os preços melhoraram, mas, ainda assim, é difícil, pois, ao invés de incentivarem os produtores locais, somos prejudicados e isso desanima um pouco”, lamentou.
As novas dinâmicas econômicas, puxadas pela busca de atividades mais sustentáveis, como observa o economista Fábio Leão, fizeram despontar em Arapiraca, principalmente, dois setores que se tornaram grandes motores da economia do Agreste: as hortaliças e o setor varejista.
“Com a diversificação econômica, Arapiraca também se consolidou como um polo comercial regional, impulsionando o setor varejista. O crescimento do comércio fortaleceu a economia urbana, gerando empregos e atraindo investimentos. A cidade se tornou um centro de referência para municípios vizinhos, ampliando sua influência econômica no agreste alagoano”, explicou.
Ainda segundo análise de Leão, a transição da cultura do fumo para novas atividades agrícolas e comerciais foi essencial para manter a prosperidade econômica de Arapiraca e região. O Cinturão Verde e o setor varejista desempenham papéis fundamentais nesse novo cenário, garantindo sustentabilidade e crescimento econômico.
A agricultora Maria Verônica foi uma das produtoras que migrou do fumo para as hortaliças. Há 10 anos, ela decidiu apostar no cultivo de alface, coentro, couve, cebolinha, milho, abóbora e mandioca e hoje vende em feiras livres em cidades vizinhas e para mercados.
Ela contou ao Movimento Econômico que as dificuldades para manter a produção de fumo motivaram-na e ao esposo a buscarem cultivos mais rentáveis. A agricultora iniciou a plantação com alface e hoje possui uma produção diversificada em sua propriedade de três tarefas, localizada no povoado Batingas, zona rural de Arapiraca.
“O fumo foi se tornando difícil de cultivar e vender, então migrei para as hortaliças há 10 anos. Hoje, tenho dinheiro toda semana, colhendo e plantando novamente. Vendo em feiras em Boca da Mata, São Miguel dos Campos e Anadia e tenho produção o ano todo”, disse.
Há oito anos, ela recorreu ao Banco do Nordeste para buscar um financiamento que melhorasse sua propriedade. Com a linha de crédito, Verônica conseguiu instalar irrigação, trocou o sistema de bombas e implantou energia solar, que hoje rende uma economia considerável com a conta de luz e isso contribui para fazer outros investimentos.
“Consegui melhorar muita coisa, é um crédito que não tem juros e hoje eu tenho diversos benefícios na minha produção. Meu milho é irrigado e tenho produção o ano todo, coisa que não seria possível com o fumo”, relata.