Entrevista com Luiz Viga

“H2V pode dominar o setor da dessalinização e democratizá-lo”

Quinta e última matéria da série Desafios da infraestrutura para a nova economia

Por Patrícia Raposo

A transição para uma economia de baixo carbono é um dos maiores desafios e oportunidades do nosso tempo. E o hidrogênio verde (H2V) emerge como uma alternativa promissora para descarbonizar indústrias e promover o desenvolvimento sustentável. Neste cenário, o Brasil se consolida como um dos líderes globais em energia renovável, e o Nordeste como destino dos investimentos em H2V. A região é atrativa por dispor de energia eólica e solar em abundância.

Mas, por outro lado, problemas com cortes na transmissão de energia e escassez de água, como mostramos nesta série de reportagem, seguem desafiando os projetos, exigindo investimentos adicionais em infraestrutura para garantir sua oferta. Isso, no entanto, não parece ameaçar o fluxo de novos negócios na região.

Nesta entrevista, Luiz Viga, country manager da Fortescue no Brasil, empresa que tem um dos projetos mais avançados do H2V no país, explica porque mesmo tendo que gastar mais, os investidores continuam chegando ao Nordeste. Viga revela que durante a prospecção por localização, a Fortescue visitou cerca de 100 países até escolher o Brasil. “Somos a empresa que mais entende de hidrogênio no mundo”, ressalta, confiante na escolha feita. Confira a entrevista.

A transição para uma economia de baixo carbono é um dos maiores desafios e oportunidades do nosso tempo. E o hidrogênio verde (H2V) emerge como uma alternativa promissora para descarbonizar indústrias e promover o desenvolvimento sustentável. Neste cenário, o Brasil se consolida como um dos líderes globais em energia renovável, e o Nordeste como destino dos investimentos em H2V. A região é atrativa por dispor de energia eólica e solar em abundância.

Mas, por outro lado, problemas com cortes na transmissão de energia e escassez de água, como mostramos nesta série de reportagem, seguem desafiando os projetos, exigindo investimentos adicionais em infraestrutura para garantir sua oferta. Isso, no entanto, não parece ameaçar o fluxo de novos negócios na região.

Nesta entrevista, Luiz Viga, country manager da Fortescue no Brasil, empresa que tem um dos projetos mais avançados do H2V no país, explica porque mesmo tendo que gastar mais, os investidores continuam chegando ao Nordeste. Viga revela que durante a prospecção por localização, a Fortescue visitou cerca de 100 países até escolher o Brasil. “Somos a empresa que mais entende de hidrogênio no mundo”, ressalta, confiante na escolha feita. Confira a entrevista.

Entrevista com Luiz Viga, Country Manager da Fortescue

Movimento Econômico: O Brasil virou destino de projetos de H2V. No caso da Fortescue, o que foi determinante para a escolha do país?

Luiz Viga: Na fase de prospecção, a Fortescue visitou cerca de 100 países e escolheu o Brasil. Somos a empresa que mais entende de hidrogênio no mundo. E vimos que a energia renovável é uma grande vantagem competitiva do Brasil. Agora será possível estocar energia, como dizia a Dilma Rousseff (risos). O Sistema Integrado do Brasil é um diferencial, pois tem mais de 90% de energia renovável no grid, o que garante certificação para o H2V. Pelos padrões europeus, quando você tem mais de 90% de energia renovável, considera-se que a rede é limpa. Na Europa, os carros elétricos são considerados “sujos” porque são abastecidos por energia fóssil. Usar o sistema integrado é a chave, mas também é uma preocupação, devido às interrupções que temos visto recentemente.

Luis Viga, Country manager da Fortescue no Brasil Foto: divulgação

Movimento Econômico: Como avalia a complexidade dessa situação e seus impactos?

Luiz Viga: As interrupções, além de prejudicarem a empresa geradora de energia, traz insegurança jurídica, porque pode exigir renegociar contratos. Afinal, essa conta tem que ser paga por alguém. Quem opera é quem sente a insegurança. O problema é que temos vários encargos setoriais e é necessário fazer um “match” entre geração e consumo. Nosso setor tem conversado com o governo para rever essa situação e temos esperança de que isso se resolva, porque é uma situação que afeta geradores, financiadoras e bancos. Há empresas geradoras que estão com dívidas altas junto aos bancos. O Brasil precisa assegurar essa grande vantagem competitiva que detém.

Movimento Econômico: Isso não tende a afetar o preço final do hidrogênio, retardando sua regressão?

Luiz Viga: O preço do hidrogênio pode ser afetado. No entanto, o Brasil possui uma fortaleza em energia renovável. Estudos de Harvard indicam que, com escala e grandes projetos, o custo do hidrogênio tende a diminuir, trazendo oportunidades para a indústria nacional. A instalação de um polo de H2V no Nordeste tende a atrair outras indústrias que buscam usar hidrogênio verde, como as do aço, de fertilizantes e dos combustíveis do futuro, como SAF e e-metanol, o que ajudará a adensar a cadeia. O H2V vai impulsionar uma industrialização verde.

Movimento Econômico: Qual tipo de energia vai predominar na planta da Fortescue no Pecém?

Luiz Viga: Planejamos usar eólica, solar e hidrelétrica, sendo esta última uma contribuição inicial. Porém, todo o crescimento será baseado em energia eólica e solar, conectados ao grid do sistema elétrico.

Movimento Econômico: Qual o plano B para o caso de problemas com entrega de energia?

Luiz Viga: A Fortescue está fazendo o projeto de engenharia de uma subestação, com investimentos de mais de 100 milhões de dólares, para doar ao governo. As empresas criam parte da infraestrutura e doam, o que é uma prática normal.

"O setor elétrico precisa ser revisto pelo governo", diz Luis Viga

Movimento Econômico: Quais são os desafios enfrentados na nova revolução industrial trazida pela transição energética?

Luiz Viga: O setor elétrico precisa ser revisto pelo governo, pois estamos vivendo um momento diferente do passado. Projetos de data center e hidrogênio verde são enormes e mudarão a forma como consumimos energia. Precisamos superar desafios para que esses projetos sejam viáveis. O planejamento da transmissão precisa ser revisto pelo governo federal, pois atualmente o ciclo que envolve o planejamento do leilão, sua realização e a entrega da energia leva entre 7 e 8 anos. Temos 40 MOUs e não há conexão? Isso requer uma mudança de paradigma. Já temos uma defasagem e, para o Brasil aproveitar essa nova onda industrial, precisaremos de uma nova maneira de planejar e entregar. Essa é a nova revolução industrial trazida pela transição energética, e quem chega primeiro bebe água mais limpa.

Movimento Econômico: Por falar em água, ela também é um desafio para o negócio. Afinal o Nordeste é uma região que enfrenta historicamente ciclos de estiagem…

Luiz Viga: Temos preocupação com as comunidades e em não tirar água da população, pois isso seria um impeditivo para investirmos aqui. Fomos agraciados com a dessalinização, com uma planta lá no Ceará, e estamos tentando, junto com o governo do estado, reusar o esgoto de Fortaleza. Isso poderia ser um diferencial no projeto. O governo poderia nos vender essa água de reuso. Eles estão fazendo investimentos na infraestrutura e firmaram PPPs com a iniciativa privada nesta direção. A dessalinizadora foi um investimento deles. Israel já utiliza água dessalinizada para agricultura. Há muitas áreas no Nordeste que precisam de água, e seria bom ter previsibilidade. Teremos um efeito colateral positivo, pois essa indústria do H2V pode dominar o setor da dessalinização e democratizá-lo. É crucial que o governo, as empresas e a sociedade se unam para enfrentar esses desafios. O Brasil tem tudo para se tornar um líder em hidrogênio verde, mas é preciso agir agora para garantir que essa revolução energética seja sustentável e beneficie a todos.

Por Patrícia Raposo

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