Água de esgoto vira insumo valioso na era do H2V

Quarta matéria da série Desafios da infraestrutura para a nova economia

Por Patrícia Raposo

A região Nordeste não precisará apenas de ampla oferta de energia para se tornar o principal centro produtor de hidrogênio verde do Brasil. Água também é um insumo muito importante. Essa é uma preocupação que os novos investidores precisam considerar ao escolher a região para sediar seus investimentos.

Investir no Brasil é bem diferente de investir na Suécia, por exemplo. Aqui os investidores se deparam tanto com desafios novos, quanto antigos. Se na Suécia os investimentos para garantir saneamento são mínimos, aqui eles fazem parte dos desafios antigos dos brasileiros.

Para construir as usinas de Paulo Afonso, por exemplo, na década de 1950, a Chesf teve que se preocupar com obras de saneamento, além de inúmeras outras coisas, que iam de escolas a clubes. Décadas depois, se viu algo parecido se repetir com Santo Antônio e Belo Monte.

A região Nordeste não precisará apenas de ampla oferta de energia para se tornar o principal centro produtor de hidrogênio verde do Brasil. Água também é um insumo muito importante. Essa é uma preocupação que os novos investidores precisam considerar ao escolher a região para sediar seus investimentos.

Investir no Brasil é bem diferente de investir na Suécia, por exemplo. Aqui os investidores se deparam tanto com desafios novos, quanto antigos. Se na Suécia os investimentos para garantir saneamento são mínimos, aqui eles fazem parte dos desafios antigos dos brasileiros.

Para construir as usinas de Paulo Afonso, por exemplo, na década de 1950, a Chesf teve que se preocupar com obras de saneamento, além de inúmeras outras coisas, que iam de escolas a clubes. Décadas depois, se viu algo parecido se repetir com Santo Antônio e Belo Monte.

Água de esgoto começa a ser valorizada /Imagem gerada por IA/ME

Os custos dos projetos no Brasil acabam ficando bem mais elevados. No entanto, quando o potencial do negócio é grande, suplanta as despesas e esse é o caso da região Nordeste, conforme especialistas ouvidos pelo Movimento Econômico.

O presidente do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), Guilherme Cardim, ressalta que os negócios com hidrogênio verde têm dois pontos críticos: um é a energia e o outro é a água. “A rota da eletrólise exige esses dois insumos básicos. E vejo pouca gente falando sobre como garantir água para essa nova indústria. Importante dizer que o Piauí atraiu o maior investimento em H2V da região não por sua ZPE ou porto, mas pela oferta de água no maior aquífero do país”, analisa Cardim. O IATI é referência nacional em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação na área de energia.

Guilherme Cardim, presidente do IATI/Foto: divulgação

A preocupação faz sentido. O Nordeste é carente de água e atormentado por secas frequentemente. A última durou sete anos. Pesquisadores estimam que serão necessários 9 litros de água com alto grau de pureza para produzir 1 kg de H2V. Essa pureza é compatível com a água desmineralizada e para obtê-la, o tratamento é robusto. Só que o desafio não pára aí. Antes de tudo é preciso ter acesso à água.

“O Nordeste tem vários pontos de estresse hídrico, inclusive com comprovado processo de desertificação. A questão da água será crucial e possivelmente será necessário recorrer a água dessalinizada e de esgoto, através do reuso’, diz o presidente do IATI. Devido ao custo, isso tende a impactar o preço final do hidrogênio renovável. “Isso pode ser um gargalo na nossa região”, ressalta. Outro ponto que ele sugere reflexão é a regulação. “Quem vai regular o uso da água nesse mercado de energia? A ONS, Aneel, ANA?”, questiona.

Cinturão das Águas: obra para garantir abastecimento no Ceará/Foto Secom-CE

O uso da água em meio ao avanço da mudança climática preocupa ambientalistas e pesquisadores, como o coletivo Nordeste Potência. “As fontes de energias renováveis são boas para o clima global, mas também devem ser boas para as pessoas e para o ambiente em escala local”, defende a organização no documento Plano Nordeste Potência, que levanta preocupação com a distribuição desse insumo.

Entender de onde vem a água é fundamental, mas também é importante considerar que a implantação das indústrias de hidrogênio verde pode contribuir para a expansão das redes de saneamento.

“Quando visitamos algumas localidades para verificar se seria possível usar água de reuso nos projetos de H2V, vimos que muitas cidades não têm coleta de esgoto, ou seja, não têm água para reusar”, disse um técnico do setor elétrico, que conversou em reserva com a reportagem.

Num cenário de alta demanda por água e com novos negócios florescendo no setor de saneamento estimulados pelo novo Marco do Saneamento, surge a oportunidade de as novas indústrias de hidrogênio contribuírem para encerrar um problema histórico, que atinge mais de 100 milhões de brasileiros, que é a falta de saneamento básico.

No Ceará isso já é realidade. Para atender às empresas de H2V que estão chegando, o governo do estado está fazendo Parceria Público-Privada (PPP) para realizar investimentos na infraestrutura de esgoto visando o reuso da água.

Nordeste deve receber mais investimentos em estações de tratamento do esgoto/Foto: Secom-SE

Uma das empresas que está se instalando no Complexo do Pecém e que deve comprar a água de reuso é a Fortescue. “Temos preocupação com as comunidades. Tirar água da população seria um impeditivo para investir no Complexo do Pecém. Estamos tentando, junto com o governo, reusar o esgoto de Fortaleza”, revela Luís Viga, country manager da Fortescue.

Em Pernambuco, a água ainda não é um problema no Complexo de Suape, que deve abrigar os negócios de H2V. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Cavalcanti, assegura que Suape conta com boa oferta de água, vinda da Barragem de Pirapama, capaz de atender aos projetos iniciais de hidrogênio renovável. No entanto, o governo de Pernambuco entende que outra barragem é estratégica para essa nova economia: a Barragem Engenho Maranhão.

Essa barragem oferece o dobro de potencial de Pirapama, que conta com capacidade para acumular 55,2 milhões de m³, e está com seu projeto básico concluído. A estratégia para sua construção é uma Parceria Público Privada. “Nossa expectativa é que no primeiro semestre de 2025 o processo da PPP esteja rodando”, calcula o secretário de Recursos Hídricos e Saneamento do Estado, Almir Cirilo. Atualmente o processo está em fase de análise no BNDES.

De acordo com Cirilo, o governo pernambucano também planeja investir na água de reuso e aguarda o avanço das obras de saneamento para ter maior oferta do produto para oferecer ao mercado.

Essas obras são realizadas através de uma PPP entre a companhia de água e esgoto Compesa e a BRK e prevê ampliação da cobertura de esgotamento sanitário na Região Metropolitana do Recife e em Goiana. Após a revisão contratual que está em curso para acelerar as obras e adequar o programa em razão do novo Marco Regulatório, a previsão é que cerca de R$ 8 bilhões sejam investidos.

Vender água de esgoto para a indústria era algo impensável até pouco tempo atrás. E isso pode acontecer de uma forma menos dispendiosa para os governos, porque podem ser obras oferecidas como contrapartida das empresas.

Almir Cirilo, secretário de Recursos Hídricos e Saneamento de Pernambuco

A Fortescue, por exemplo, está fazendo o projeto de engenharia de uma subestação, para garantir energia para seu projeto no Pecém com investimentos de mais de US$ 100 milhões. “As empresas criam parte da infraestrutura e doam, o que é uma prática normal”, confirma Luís viga.

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