- Colaborou Assíria Florêncio
Protagonista da transição energética no Nordeste, o Ceará transformou um evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) em uma declaração de valores para se tornar um hub nacional de hidrogênio verde. Durante dois dias, o FIEC Summit reuniu representantes do poder público e do empresariado para discutir a consolidação de uma cadeia de H2V. Até a quantidade de investimentos que o estado vai receber é de dar inveja nos vizinhos da região: serão US$ 30 bilhões para que, em três anos, a produção tenha início.
A expectativa econômica foi revelada pelos presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria, Ricardo Cavalcante. O cálculo foi feito a partir de uma consultoria norte-americana junto a especialistas do MIT e de Harvard, resultado de seis empreendimentos em estágio de pré-contrato, três com licença prévia já emitida pelo órgão ambiental e mais 39 memorandos de entendimentos firmados.
“A efetivação dos projetos, cujos contratos já estão devidamente assinados, pode gerar cerca de US$ 30 bilhões de investimentos só no Estado do Ceará”, afirmou Cavalcante durante apresentação na abertura do evento.
Esta fortuna foi celebrada pelo governador Elmano de Freitas, que levou a boa notícia para outros palcos. Depois de participar da abertura do FIEC Summit 2024 na segunda-feira (12), Elmano de Freitas repetiu a conta mágica de US$ 30 bilhões nesta terça-feira (13) para parlamentares e líderes de entidades que representam as empresas que atuam na cadeia de H2V em evento na Câmara dos Deputados para comemorar a entrada em vigor do marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono.
“Queremos chegar a 2030 com a produção de um milhão de toneladas de hidrogênio verde no Ceará”, afirmou o governador cearense nos dois eventos, em Fortaleza e em Brasília. O estado leva a sério a intenção de transformar o Porto de Pecém em um polo de produção de H2V, liderando a transição energética e a redução de emissões de carbono. O Hub do Hidrogênio Verde foi lançado oficialmente no local em 2021. Em três anos, prospecções inclusive em outros países e as vantagens estratégicas cearenses começaram a dar resultado.
Aeris Energy, ArcelorMittal, Gerdau, Matsuda e White Martins são exemplos de indústrias que estão alocadas no complexo localizado entre os municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, a cerca de 60 quilômetros de Fortaleza, que se situa na “esquina do Atlântico”. “Vamos investir R$ 675 milhões para adaptar Pecém às usinas de hidrogênio, com grande parte da estrutura compartilhada com as empresas para reduzir custos, aumentar eficiência e melhorar a precificação da molécula”, explicou Freitas.
Aos poucos, os projetos saem do papel e se transformam em empreendimentos com possibilidade de muitos empregos na área portuária que é fruto de uma joint venture formada pelo governo do estado e pelo Porto de Roterdã, o maior e principal porto da Europa. O otimismo não é apenas do poder público. O FIEC Summit 2024 tornou-se também palco para a divulgação de novos investimentos.
Novos investimentos na cadeia de H2V
O CEO da Aeris Energy, Alexandre Negrão, anunciou no evento que a empresa vai desembolsar R$ 50 milhões para a produção de cilindros para transportar gás natural e hidrogênio verde. Fabricante de pás para geradores de energia eólica, a Aeris quer também se integrar na rede desta nova matriz energética. O montante será aplicado até 2025, com fornecimento primeiro para São Paulo, em seguida, Ceará e, por fim, os demais estados do país.
Além dos anúncios dos grandes players, foi firmado durante o FIEC Summit 2024 o acordo de implementação de um Instituto de Ciência e Tecnologia no campus do Instituto de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica (ITA) no estado. O núcleo, vinculado ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), possui potencial para se tornar um parque tecnológico no futuro.
Elmano de Freitas destacou a importância de ter no estado o ITA, além de turmas voltadas para a transição energética e outras prioridades do Ceará. “Temos muito orgulho de ter aqui o ITA. É importante dizer que teremos aqui turmas voltadas para a engenharia de energias e engenharia em sistemas, algo absolutamente coerente com a prioridade estratégica de desenvolvimento do nosso estado, para energias renováveis e comunicações”, disse o governador.
“O Ceará, neste momento, lidera um novo processo de industrialização no país a partir do lançamento de uma nova Indústria Brasil. Investimentos feitos por diversos governos fizeram o Ceará assumir a liderança na área de energias renováveis e agora na produção de hidrogênio. Tenho muita convicção de que a emergência climática e a necessidade das empresas acelerarem os processos de descarbonização com segurança farão do Ceará um grande destino para empresas do mundo todo”, destacou o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg.
“Nosso objetivo com o FIEC Summit é mostrar à sociedade e aos empresários o que está chegando, esse novo movimento que é a transição energética. O Ceará todo está imbuído nisso. Vai ser uma vertente muito forte de ampliação da nossa indústria e do PIB do nosso Estado. E o que as pessoas vão ver aqui no evento são todas as empresas, os setores e entidades que estão trabalhando juntos para o fortalecimento da cadeia do hidrogênio verde”, afirmou o presidente da federação das indústrias do estado. Com governo e empresários unidos, o hidrogênio ganhou sinal verde no Ceará.
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